Como a nova Economia Flexível está transformando a vida dos trabalhadores em um Inferno.

(Robert Reich, secretário do trabalho durante a primeira administração de Bill Clinton)

Ultimamente não é incomum que alguém a caminho do trabalho receba uma mensagem de texto de seu empregador dizendo que ele não será necessário naquele dia.
Ainda que já tenha conseguido alguém para buscar o filho na escola, para cuidar do filho o resto do dia, o trabalho não está mais disponível, e ele não será pago por aquele dia.
A escala de trabalho “Just-In-Time” é a novidade do momento, criada para deixar o comércio, restaurantes, hotéis e outros negócios voltados ao consumidor mais dinâmicos, mantendo os custos mínimos.
É possível utilizar software para se prever necessidades de recursos humanos de última hora, baseado em informações de tráfego, clima e vendas, com horas ou até minutos de antecedência.
Desta forma, os empregadores não precisam remunerar ninguém para trabalhar, a não ser que eles sejam estritamente necessários. As empresas podem evitar o pagamento de salários a empregados que estariam momentaneamente ociosos.
Os empregadores designam os empregados em turnos provisórios e comunicam meia hora ou dez minutos antes do início do turno se eles realmente precisam comparecer ao trabalho. Alguns até exigem dos trabalhadores que consultem por telefone, email ou mensagens de texto imediatamente antes do início previsto do turno de trabalho.
A escala “just-in-time” e outra parte da nova economia flexível da América – acompanhada pela opção de contratantes independentes e a crescente confiança em negócios de “economia compartilhada”, como a Uber, que não fazem nada mais do que clientes com trabalhadores dispostos a servi-los.
Software de última geração está por trás do modelo – plataformas digitais que permitem equiparar custos par e passo com necessidades.
A imprensa de negócios considera esta flexibilidade uma virtude pura. Wall Street a recompensa com ações a preços melhores. O “mercado de trabalho flexível” é motivo de inveja de líderes de negócio e definidores de políticas ao redor do mundo.
Há apenas um problema. A nova flexibilidade não permite aos trabalhadores viverem suas vidas
As empresas costumavam considerar custos fixos dos empregados – como os custos de fábricas, escritórios e equipamento. Folhas de pagamento podiam crescer ou diminuir com o tempo acompanhando o crescimento ou encolhimento do negócio, mas eram mais ou menos constantes de ano a ano.
Isso significa empregos estáveis. Com a estabilidade no emprego vem a remuneração estável e escalas de trabalho regulares e previsíveis.
Nesse novo prisma, empregados passam a ter custo variável no negócio – dependendo de crescimento ou diminuição na demanda, que podem mudar de hora em hora, possivelmente de minuto em minuto.
Entretanto os trabalhadores têm que pagar aluguel ou prestação habitacional, tem taxas de água, luz e gás, alimentação e combustível. Essas contas não variam muito de mês a mês. Elas compõem o custo fixo do viver.
Os trabalhadores não podem simultaneamente ser um custo variável para as empresas vivendo em um mundo de custos fixos.
Os trabalhadores também são maridos e esposas, muitos deles pais e mães, e muitos ainda precisam cuidar de parentes idosos. Tudo isso impõe escalas coordenadas antecipadamente – quem vai fazer o que e quando.
Tal planejamento é impossível quando não se sabe quando estará trabalhando.
Como quer que se chame – escala “just-in-time”, trabalho sob demanda, contratação independente ou “economia compartilhada” – o resultado é o mesmo: sem previsibilidade não há segurança econômica.
O modelo aumenta a eficiência das empresas, mas é o pesadelo das famílias de trabalhadores.
Na última semana o National Employment Law Project reportou que 42% dos trabalhadores nos EUA recebem menos de $15 por hora, mas nem $20 por hora seriam suficientes de o trabalho for imprevisível e inseguro.
Não só é crítico o aumento do salário mínimo como também são críticas a regularidade e previsibilidade da escala de trabalho.
Alguns estados exigem dos empregadores que paguem a todo empregado que se apresente para o trabalho e for mandado de volta para casa, pelo menos 4 horas de salário mínimo.
Essas leis não conseguem competir com software que permite aos empregadores compor a escala “just-in-time”, e informar aos trabalhadores minutos antes que eles não serão necessários.
No que pode se tornar um caso de estudo, o promotor geral de Nova York Eric Schneiderman alertou na última semana a 13 grandes lojas – incluindo Target e The Gap – que suas escalas “just-in-time” desrespeita e lei estadual, que exige pagamento aos trabalhadores que se apresentam para o trabalho e são dispensados.
We need a federal law requiring employers to pay for scheduled work.
Precisamos de uma lei federal exigindo o pagamento por trabalho agendado.
Alternativamente, se os trabalhadores não conseguirem turnos regulares e previsíveis, eles ao menos precisam de garantias mais fortes.
Estas incluiriam pré-escolas de qualidade e programas pós-aulas; seguro desemprego para pessoas que trabalham em escala parcial; uma renda mínima garantida.
Todo o blábláblá sobre “locais de trabalho familiares” não faz sentido se os trabalhadores não tiverem controle sobre quando vão trabalhar.

ROBERT B. REICH, Chancellor’s Professor of Public Policy at the University of California at Berkeley and Senior Fellow at the Blum Center for Developing Economies, was Secretary of Labor in the Clinton administration. Time Magazine named him one of the ten most effective cabinet secretaries of the twentieth century. He has written thirteen books, including the best sellers “Aftershock” and “The Work of Nations.”

http://robertreich.org/post/116924386855

#Terceirização #DireitosTrabalhistas

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