Escolhas e consequências

Me lembrei hoje de uma conversa que meus tios tiveram comigo, quando saí da casa do meu pai e fui morar em Belo Horizonte. Basicamente eles me alertaram para o fato de que minha índole rebelde poderia me colocar em situações problemáticas. Me pediram que eu sempre pensasse bem no que ia fazer e que me inteirasse de possíveis consequências dos meus atos, não só na forma como afetaria outras pessoas, mas também em questões regulamentares ou legais: eu não ia ter um parente figurão para me tirar de uma situação ruim.

Essa conversa me alertou para essa realidade de que tem gente que consegue se safar de situações complicadas por ser parente de alguém influente, e de que eu não era esse tipo de gente. Entendi e levei a sério. Sempre me inteirei de leis e afins que regiam e regulavam o meu modo de vida, e procurei me cuidar. Quando me dei mal, assumi acatei a punição.

Nessa semana eu tenho visto esse pessoal que participou da depredação das sedes dos três poderes e acabou em cana, reclamando disso e daquilo. Sério?

É preciso prestar atenção em eventuais consequências do que a gente quer faazer e, a partir da disposição de enfrentar estaqs consegquências, escolher fazer ou não fazer. Na maioria dos casos é possível escolher, como foi nesse caso da confusão do dia 8.

Vejo esse povo repetindo a expressào “desobediência civil” nominando uma forma de protesto válido contra o que quer que seja que não lhes agrada. Até concordo, mas esse pessoal precisava ter lido o que Thoreau escreveu sobe “Desobediência Civil”: narrando sua saga de não aceitação dos impostos que lhe era cobrados, sua escolha de parar de pagar os impostos e da aceitação da pena que lhe foi imposta, a prisão, pois era o que determinava a regra vigente na sociedade em que ele vivia. Thoreau foi preso e ficou preso e aceitou a pena, pois era o que se previa para a ação que ele escolheu para protestar. Em outro momento, discordando da organização da sociedade onde ele vivia, decidiu abandoná-la, para poder viver pelas regras que ele mesmo determinasse. Abandonou tudo, se mandou para a beira do Lago Walden, construiu uma moradia com as próprias mãos e passou a viver com os recursos que a natureza lhe oferecia e que ele conseguisse capturar e colher com seu próprio esforço. Se era contra o Estado, escolheu viver sem as limitações que o Estado lhe impunha, mas sem usufruir das benesses que o Estado lhe oferecia. Como termiou? Leia o livro.

O fato é que os participantes da bagunça do dia 8 escolheram estar lá e, como vivem aqui nesta sociedade também por escolha, precisam se sujeitar às leis e regulamentos para usufruir das benesses oferecidas. É o que se costuma chamar de Contrato Social. Simples assim. Não adianta afrontar as regras, violentamente, diga-se de passagem, e depois reclamar que a salsicha servida na detenção está fria, ou que o banheiro não está limpo.

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